Olhos que não vêem, coração que não sente.

O carecone, no seu mondo carecone, tocou numa questão pertinente e que me apetece expor aqui.

Não vou publicar o post dele na íntegra, mas apresento aqui os dados que recolheu:


- 11 de setembro de 2001, EUA: 2400 mortes.

- Entre 7 de abril e 4 de julho de 1994, Ruanda: cerca de 900 mil mortes, o que equivale a 10 mil por dia; 250 mil violações de mulheres e meninas, o que dá mais ou menos 2778 por dia.

- Desde 2003 até hoje, Darfur (região de maioria cristã do Sudão, com governo muçulmano): até agora já foram 500 mil mortes, cerca de 457 por dia.

- E gostava de saber quantas mortes houve até agora desde que começou a guerra contra o Iraque, a 20 de março de 2003.


Vejam aqui desenhos feitos por crianças sudanesas, da região de Darfur, recolhidos pelo Human Rights Watch. Cliquem nos desenhos e leiam as legendas! Vão-se arrepiar com os relatos feitos por estes miúdos.

E agora a grande questão é esta: por que razão nos detivemos (e ainda detemos) tanto perante o 11 de Setembro e as mortes que daí resultaram? A sensação que dá – e tenho a certeza de que isto é um facto, mesmo sem ser preciso fazer inquéritos, entrevistas, sondagens, estudos – é que o mundo ficou muito mais impressionado com o atentado (cof cof! Agora estou numa de conspiração) às Torres Gémeas do que com todos os outros atentados que acontecem todos os dias contra a humanidade.

Porque é que isto acontece? Assim sem pensar muito no assunto, vejo três hipóteses: o facto de os americanos serem considerados a grande potência mundial e, por isso, à partida, intocáveis (se tivermos em conta a versão oficial dos acontecimentos); a publicidade que daí advém feita pelos meios de comunicação, que, ainda por cima, tanto relevo deram a este episódio (tinha de ser, claro, seria estúpido se não o fizessem); a “proximidade” que há com os Estados Unidos, precisamente devido a toda esta publicidade que lhes é feita e tudo aquilo que nos chega como americanices e se torna também nosso e que faz parte do processo natural de aculturação.

Somos cruéis e frios em relação àquilo que está distante para nós. Assenta-nos que nem ginjas aquele provérbio popular que diz que olhos que não vêem, coração que não sente.

Um ser humano é um ser humano – aqui, ali ou acolá – e nenhuma vida, à partida, é mais importante do que outra. Sentimos mais umas mortes do que outras porque não é da nossa natureza sentirmos falta de quem não conhecemos. Mas conseguimos pelo menos pôr-nos na pele de outros e tentar imaginar o seu sofrimento. Mas é difícil chegar lá. Porquê? O nosso umbigo é TÃO lindo...