O Fuck Them All apresenta… Evando dos Santos!

A história deste homem dava uma longa-metragem ao estilo de O Carteiro de Pablo Neruda. O Evando dos Santos lembra-me precisamente Mario Ruoppolo, o pescador (e carteiro pessoal de Pablo Neruda!) interpretado pelo actor Massimo Troisi, nesse magnífico filme de Michael Radford. Mario Ruoppolo é praticamente analfabeto e aprende que a literatura (neste caso concreto, a poesia) é a expressão do mundo e do homem e que é uma forma de conhecimento. Mas o fascínio dele é outro: é que ele apercebe-se de que a sua imaginação tem força para mudar a realidade ou, melhor ainda, para criar uma nova e mais bela realidade.

Mas deixemo-nos de sinopses. A ideia que eu quero que fique de O Carteiro de Pablo Neruda, para explicar a analogia que fiz do filme com o Evando dos Santos, é esta: a certa altura, Mario Ruoppolo diz a Neruda que “a poesia não pertence àqueles que a escreveram, mas sim àqueles que precisam dela”, o que nos remete para a universalidade e gratuitidade da literatura. LINDO!

Evando dos Santos, pedreiro de profissão, aprendeu a ler aos 18 anos. Em 1998, foi a uma casa fazer um trabalho. Passou numa loja de peças e, à saída, reparou num monte de 50 livros que estava em cima do balcão. Perguntou se o dono da loja queria vendê-los e o homem respondeu-lhe que ia doá-los, pelo que Evando acabou por levá-los para casa - foi a base da Biblioteca Comunitária Tobias Barreto de Meneses, nome do seu escritor preferido. Neste momento, a biblioteca já conta com cerca de 40 mil exemplares e 4 mil deles foram trazidos de diversos pontos do Brasil pelo próprio Evando, que se metia num autocarro para ir buscá-los. Corajoso!

Qualquer pessoa pode levar o livro que quer, sem burocracias. E esta é genial… Evando diz que se o livro não for devolvido, isso “é motivo de festa, porque o livro foi feito para circular – quanto mais ele circula, menos coisas ruins no mundo e mais coisas boas.” É ou não é extraordinário?

Estima-se que passem pela biblioteca comunitária cerca de 20 pessoas por dia. Estudantes, principalmente, em busca de fontes de investigação para os seus trabalhos, mas há também quem procure informação especializada. E a verdade é que esta biblioteca tem um pouco de tudo, inclusive algumas obras raras que não se encontram nem na Biblioteca Nacional, como a primeira gramática da Língua Portuguesa, que data de 1539.

“Tenho estantes de livros na sala, no quarto, e até na casinha do cachorro!”

E Evando, agora com 46 anos, tem umas tiradas fantásticas. Vejam esta: “Se eu tivesse dinheiro, eu ia ficar pobre, mas ia encher este Brasil de fantasia livresca, porque o livro é a ferramenta-mestra de todas as ferramentas. Sem o livro, não haveria computador, televisão, nada. Eu saio de casa todos os dias com quatro livros debaixo do braço e dou para as pessoas na rua. Pergunto: “Você já leu um livro hoje?”, e declamo uma poesia. Se as pessoas não lêem, isso incita a violência. Portanto, leiam!”


Mais nada!