De palhaçadas está o circo cheio
Vou começar do princípio. Saí de casa por volta das 11 horas para entrar às 10h30 no trabalho. Estava já tudo a correr muito bem. Ia eu a fazer marcha-atrás para um lugar de estacionamento, quando vem uma senhor idosa (de todas as vezes que contei a história disse “velha”, mas escrito parece mal) a toda a velocidade, num jipe, e me bate no meu pequenino opel corsa. Ela, do alto do seu jipe: “Ó jovenzinha, ouve bem o que te vou dizer. Aprende, que eu não duro sempre.” Eu: “Alto e pára o baile! Jovenzinha o tanas, já basta pedirem-me identificação quando quero comprar tabaco!”* Ela: “Ah e tal, assinamos a declaração amigável e resolve-se tudo”. Eu: “Muito bem. Dá-se como culpada?” Ela: “Eu não tive culpa nenhuma.” Eu: “Nem eu. Chama-se a polícia.”
Chegou, então, a polícia. Dois homens e uma mulher. “Não têm coletes, nem puseram o triângulo, mas o que é isto?” – disse a senhora polícia, com toda a razão. A zona era exclusivamente de estacionamento, não se passa nada ali... Mas leis são leis, de facto. Toca a vestir os coletes, para entusiasmo dos espectadores, à janela. Acção! A senhora polícia continuou, desta vez para mim: “E estes pneus, o que é isto?” Estavam muito carecas, é verdade. Nem altos-relevos, nem baixos-relevos, nem nada. Lisos.
Depois dos procedimentos necessários, vem um dos senhores ter comigo. “Vamos apreender-lhe o documento único e tem oito dias para mudar os quatro pneus”, disse ele. “Os quatro?”, perguntei eu a fazer contas à vida. “Pois, os da frente estão carecas e os de trás não estão ‘omolgados’”, pareceu-me ouvir. E ouvi bem. Quando o senhor polícia me deu a guia de substituição do documento, tinha escrito que os pneus da frente não apresentavam condições de segurança para circular e que os de trás não eram “homolgados”.
No meio de tudo isto, a senhora polícia e o senhor polícia número dois iam conversando: “Ó Pereira [nome fictício], que horas são?”, perguntou ela. “Meio-dia”, respondeu ele. “Bolas, quero ir almoçar e ainda aqui estou... Pfff!”, considerou ela.
Recebi depois um telefonema durante a tarde, do senhor polícia número um, que me disse que afinal os pneus de trás estavam “homolgados” sim senhora e que bastava mudar os da frente. Caso o fizesse dentro dos oito dias, pagava o valor mínimo da multa, 24,95 euros.
Ora, trocados os pneus, fui ontem à esquadra. O senhor polícia número um olha para mim, suspira, e diz: “É por causa dos pneus, não é? Pffff, que sorte a minha... Onde é que tem o carro?”. Sempre com cara de enfado. “Está ali na segunda praceta”, disse eu já quase a pedir desculpa por estar a incomodar. “Então e não podia tê-lo trazido para mais perto?” - perguntou, levantando-se a custo. “Podia ter deixado o carro aqui em segunda fila, mas preferi não me pôr a jeito para uma multa nova e estacionei-o como deve ser”, esclareci. E lá fomos. “Servem”, disse-me ele referindo-se aos pneus.
Voltámos à esquadra e o senhor demorou meia hora para preencher uns espaços em branco num papel. Perguntou, ainda, a um colega como se escrevia “cêntimos”. Quando ele me deu o auto ou o levantamento do auto ou o raio-que-o-parta procurei imediatamente a parte dos “cêntimos” mas, infelizmente, ele não a escreveu mal. Perguntou a tempo. Foi pena.
Estavam mais três agentes naquela sala. Todos em amena cavaqueira, como se eu não estivesse ali. Um ligou o messenger, outra partilhava com os demais, eu incluída, que tinha a capacidade de gostar de toda a gente, ao que um terceiro respondeu: “Pudera, és uma ordinária!”.
Bom, tive vergonha por eles.
* quem conta um conto acrescenta sempre um ponto e eu aqui acrescentei vários
7 Comments:
E tudo por causa da senhora idosa! Rais parta.
Coitadinha, leste tudo? Corajosa! =)
"Oh jovenzinha!..." ............................................................................................
Isso e "Oh coisinho!..." são exclamações profundamente irritantes.
Que bela manhã, a tua!
Claro que li tudo!
Por acaso tomas-me por uma leitora desnaturada?? :P
Quando li a parte de um dos agentes ser chamado de "ordinária", imaginei a sala cheio de agentes policiais, em frente ao computador, vestidos de mulher, muito mal maquilhados, pernas peludas, lábios mal pintados e cabeleiras tortas. Não era assim que estavam, pois não?
Eu acho que as nossas esquadras e os nossos agentes deviam ser elevados a Património Mundial.
É daquelas coisas só mesmo nossas.
OK OK.
Quando vim pra minha nova velha casa, estava sempre a receber cartas do tribunal, psp, etc. para me apresentar em tal dia a tal hora em tal sitio. A cena é que não era eu, era o cabrão que morou em tempos na casa que eu e minha esposa e chinchilas habitamos. Provavelmente o bacano já estaria morto!
Tive que ir falar com a monaria, e ai passei mal, bué da tempo, tipo nem sei se era o sistema se era a burriçe do agente cabeça de caralho!
A cena mais bizarra, é que eles tinham adoptado um cão de seu nome pinto da costa, que habitava na esquadra.
Porém, não vi o canideo como o PARASITA, mas o cabecinha de pilota!
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