Patinhas de carraça

O Museu de Salazar, criado pela Câmara de Santa Comba Dão em colaboração com o sobrinho neto do porco fascista, Rui Salazar de Lucena, está a dividir opiniões. Uns dizem que é preciso preservar a memória de uma figura central da História do século XX, outros dizem que a criação do museu representa “um retrocesso civilizacional ao qual é preciso dar um combate eficaz”.


A uns e a outros, o que tenho a dizer é que vão bardamerda!

Quanto aos primeiros, Salazar foi sem dúvida uma figura central da História do século XX. E Jack, o Estripador, foi uma figura central da História do século XIX; em relação aos segundos, tenham lá calma, que isto é uma democracia (cof cof) e pode-se erigir museus à memória da poia que se quiser.


Mas do que eu gosto mesmo é dos “gritos de guerra” dos habitantes de Santa Comba Dão. Aqui ficam alguns:

- “Quero que se lembrem do Salazar, um filho desta terra que é preciso conhecer!” De facto, é difícil esquecer. Sobretudo aqueles que estiveram presos, foram torturados ou que fazem visitas mentais nocturnas a terras de ultramar.

- “Respeito pela memória de Salazar, para defender a sua doutrina, contribuindo para que a mesma não seja esquecida nem deturpada e que se recorde o seu exemplo!” Ressuscite-se a PIDE, que só queria manter a ordem e ninguém andava aí a ser roubado pelos pretos que estavam lá para terra deles! Isso é que eram tempos! Crie-se uma nova Legião Portuguesa! Hip hip… hurray! Heil! Ai, não, enganei-me, isto do heil era outra coisa… Salvé! Pronto, assim está melhor.

- “Salazar nunca fez mal a ninguém e a esta terra só trouxe coisas boas!” Sobre a primeira parte que constitui a oração, não vou tecer comentários; quanto à segunda, o facto de Salazar levar pastéis de Belém aos conterrâneos sempre que visitava a sua terra natal não me parece razão suficiente para se abrir um museu em sua homenagem.

- “É importante conhecer-se o Estado Novo!” Ena, concordo! Mas é preciso celebrar um fdp para isso? E que tal um museu sobre a PIDE? Também é importante conhecê-la… E um monumentozinho ao Tarrafal? Eu acho que era simpático.

- “Salazar continuas vivo, mesmo contra quem nega tua obra!” Pois continua, já falámos sobre isso, não é fácil esquecer. E penso que ninguém nega uma obra tão vasta e competente como a do fascismo. Aqui, na Alemanha ou noutro país qualquer onde tenha havido uma ditadura fascista. São aparelhos de estado altamente competentes que funcionam tipo carraça. Arranca-se e ficam lá as patinhas a espalhar veneno…


Quanto aos antifascistas, desculpem lá, esqueci-me de vocês entretanto, mas o que vos queria dizer, basicamente, é que os senhores conterrâneos do Salazar têm razão. Ele é responsável por uma obra que vai lá, vai! É que foi mesmo merda da grossa, senão vejam (e isto é o mínimo que posso dizer): PIDE, Mocidade Portuguesa, Legião Portuguesa, Guerra Colonial, Tarrafal, Comissão de Censura… foi só criar! E durou tudo durante quase 50 anos! É obra ou não é?