sexta-feira, dezembro 01, 2006

Grande Prémio de Poesia APE/CTT


António Ramos Rosa



o poema é um sistema de nervos e de músculos
que flúem entre pausas com o veludo do seu sangue
como um peixe flexível e sinuoso e lento
Ele alheia-se do mundo para perspectivá-lo
segundo as suas linhas de surpresa e harmonia




António Ramos Rosa venceu a edição deste ano do Grande Prémio de Poesia Associação Portuguesa de Escritores/CTT - Correios de Portugal 2005.

O poeta, com 82 anos, é natural de Faro e já foi distinguido com vários prémios nacionais e estrangeiros, entre os quais o Prémio Pessoa, em 1988.



Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração

8 Comments:

Blogger Jota Hemme e Hesse said...

Não posso adiar o coração,
Não posso adiar o coração,

Não posso adiar o amor, nãaaao...

and so on and so on...

sexta-feira, dezembro 01, 2006 5:44:00 da tarde  
Blogger Ricardo said...

Uma voz na pedra

Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.

António Ramos Rosa

sexta-feira, dezembro 01, 2006 6:13:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra. "

Muito bom...

Não conheço este senhor
Lá vai eu à procura....

Toupeira, o Ignorante

sexta-feira, dezembro 01, 2006 6:34:00 da tarde  
Blogger marta cs said...

gentil
Não posso adiar este abraço...

ricardo
Mais uma vez, a pontaria. Gosto muito desse!

toupas
Vai lá que vais gostar!

sexta-feira, dezembro 01, 2006 6:43:00 da tarde  
Blogger Ricardo said...

Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.

Talves não seja pontaria, mas os caminhos anónimos em que nos movemos não escolhem soluções alheias. É pena. Eu até nem sou nada mendigo, mas tenho pena. Ah pois... gosto do Ramos Rosa.

sábado, dezembro 02, 2006 7:53:00 da manhã  
Blogger Ricardo said...

errata erratíssima: "talvez" mas que coisa estranha, a palavra talvez. se pudesse, jurava que não existia. posso? então juro que não existe. é possível que exista. existe. as palavras têm um sangue diferente de nós.

sábado, dezembro 02, 2006 7:58:00 da manhã  
Blogger Unknown said...

ola!

n conheço este tony mas é very very deep!

mas eu sou mais so q ainda ninguem me descobriu e n tenho 82 anos!

entretanto deixei so uma ultima palvra no comment anterior e so p n ter escrito p o boneco venho aqui chamar o centro da gravidade à minha pessoa!

beijitos, viva o glorioso e hasta la pasta!

sábado, dezembro 02, 2006 10:02:00 da tarde  
Blogger marta cs said...

ricardo
O ramos rosa é o maior. Disso não há dúvidas. Quanto ao resto... Que hora tardia era aquela?!

anouska
Esta maluca está de todo... O que é que andavas aqui a fazer a uma hora destas num sábado?!

domingo, dezembro 03, 2006 1:39:00 da manhã  

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